quarta-feira, 19 de agosto de 2020

QUESTÕES EXISTENCIAIS

22/05/2020
Hoje pensei em muitas coisas sobre palavras não ditas, não expressadas, quantas histórias teríamos para contar, mas elas ficam perdidas porque não dizemos, não contamos. Quantas lutas e desafios vencidos ou mesmo perdidos são enterrados em nossas mentes para sempre. Quando chego a isso tenho sempre a sensação que preciso escrever contar, infelizmente acredito, na maioria das vezes, que são histórias sem importância. Hoje decidi que a primeira coisa que faria seria escrever.
Sobre o quê? Confinamento... as dificuldades... as milhares e intermináveis atividades nunca terminadas, ao contrário, quanto mais realizadas, mais elas brotam. Final de semana é tempo de colocar em dia o que ficou, infelizmente, muito curto esse tempo, também não é suficiente. Inicia então a segunda-feira e não sei onde ficou o final de semana... Aí vem a cobrança do porque as atividades não foram terminadas, porque não ficou inteiramente com a família, não fez exercícios, não comeu saudavelmente, pouco deu tempo de molhas as minhas plantinhas etc... essas cobranças de são de uma unica pessoa... EU... a pior e mais dura cobrança, pois ela nunca acaba. 
Decidi que deveria ouvir Maria Bethania, essa voz sempre tem algo a nos dizer. Deparei-me com sua interpretação do poema Cântico Negro de José Regio (José Maria dos Reis Pereira)

Tive a sensação que era exatamente isso que eu deveria dizer a mim mesmo e para o mundo:




Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu viva com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vos respondeis,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapo, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para deflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
[...]
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

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